A nova face da plástica

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6 de maio de 2019

A nova face da plástica

Lábios carnudos, bochechas marcadas, mandíbula bem definida, queixo esculpido. Esses são os resultados prometidos por clínicas de estética facial que vendem o “pacote Kylie Jenner”: um festival de substâncias injetadas em todos os cantos da cara com o objetivo de reproduzir a transformação pela qual passou a americana de 21 anos e 131 milhões de seguidores no Instagram.

Nos últimos cinco anos, ela deixou para trás a carinha adolescente e adotou a mesma aparência de mulherão de sua irmã, a socialite Kim Kardashian. A pele clara, a boca fina e o nariz com sardas deram lugar ao rosto bronzeado, anguloso e com lábios volumosos. O visual é desejado (e copiado) por boa parte das mulheres que acompanham Kylie e sua família há 12 anos no reality show Keeping Up with the Kardashians, um dos programas de maior audiência da TV americana.

A metamorfose não tem mistério: Kylie recorreu a preenchedores para modificar seus traços. Assim como muitas outras pessoas que querem mudar algum aspecto do rosto sem cirurgia. Entre 2012 e 2017, procedimentos com injetáveis – que incluem, por exemplo, o ácido hialurônico e a toxina botulínica, o botox – aumentaram 40,6% nos Estados Unidos (1) . No Brasil, o crescimento foi ainda maior: 80%. Isso só entre 2014 e 2016 (2).

O ácido hialurônico é a substância mais requisitada por quem quer um nariz mais retinho ou sobrancelhas arqueadas sem precisar entrar na faca. Apesar de ser usado no Brasil desde 1996, ele se popularizou nos últimos anos com a onda da “harmonização facial”. O tratamento estético que caiu no gosto dos brasileiros (sim, homens também fazem) busca equilibrar as características do rosto apenas com preenchimentos. Se o que incomoda é a boca fina, algumas sessões de agulhadas do ácido garantem lábios com mais volume; caso seja o queixo pouco delineado, o produto dá uma redesenhada nele.

O último levantamento global de procedimentos estéticos da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) aponta que foram realizadas 254 mil aplicações de ácido hialurônico no Brasil apenas em 2017. O número é três vezes maior do que o total de rinoplastias. Não é para menos: modificar o nariz com um preenchedor é bem mais barato do que por meio de uma operação cirúrgica. Cada aplicação do ácido hialurônico custa, em média, R$ 2 mil; já uma rinoplastia não sai por menos de R$ 8 mil.

Mas não é só o preço que justifica o apelo dessa substância – a segurança também. Entre os preenchedores, é o método com menor risco de provocar uma reação alérgica (a probabilidade é de menos de 1%). Isso porque nós já produzimos ácido hialurônico naturalmente, então o organismo não o vê como algo estranho. Até os 30 anos, temos boas quantidades desse ácido, que confere mais elasticidade à pele e às articulações – ele atrai água, então funciona como um lubrificante. Na pele, é como se fosse a espuma de um colchão – assegura a derme firme e maleável que todo mundo tem aos 20 e poucos, e ninguém aos 40 e poucos.

A ciência sabe como produzir ácido hialurônico a partir de várias fontes. Está descoberta a fonte da juventude, então? Não. O ácido que o corpo produz é líquido. Não dá para aplicar de forma eficiente. “Se injetarmos a versão líquida, ele só vai hidratar a região, e será dissolvido em até 72 horas”, diz o médico Jardis Volpe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. O que a indústria faz é outra coisa: ácido hialurônico em gel. Ele não devolve a juventude, mas esculpe o rosto de forma segura, como dissemos lá atrás.

Cada aplicação dura de seis meses a dois anos. Há versões mais finas, usadas nos lábios, e outras mais espessas, para regiões com pele grossa – bochecha, nariz, contorno do rosto. Bônus: se o resultado não ficar bom, dá para dissolver o ácido com um antídoto, a enzima hialuronidase – que também é produzida no nosso organismo.

Outra classe de preenchedor que tem ficado mais popular é a dos estimuladores de colágeno. A proposta aí não é tanto dar volume, mas aumentar a espessura da pele. Funciona assim: o produto, quando injetado, causa uma inflamação leve, que dura algumas semanas. Esse processo ativa os fibroblastos, células que produzem colágeno, proteína que dá firmeza à pele.

O botox, mais um queridinho de quem não quer encarar o bisturi, age de forma bem diferente. Ele não preenche nada, só paralisa a contração muscular, para evitar rugas. A toxina botulínica faz isso bloqueando temporariamente a acetilcolina, neurotransmissor responsável pela movimentação dos músculos. Essa é a mesma origem do botulismo (daí a coisa chamar “toxina botulínica”). A dose nos tratamentos estéticos, porém, é cem vezes menor do que a necessária para causar problemas.

(1) Dados da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética.
(2) De acordo com o mais recente censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)

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